quarta-feira, 26 de maio de 2010

Doce solidão

Solidão, foge que eu te encontro...
Que eu já tenho asa.
Isso lá é bom, doce solidão?

Marcelo Camelo

segunda-feira, 24 de maio de 2010

As mãos e a criação

O artesão original foi Deus, que modelou no barro o primeiro homem. Pelas mãos divinas, o objeto virou sujeito e se espalhou pelo mundo. A mão humana, conduzida pela inteligência e habilidade, faz milagres que lembram a Criação. O revolver da terra, para que ela receba a semente, é artesanato. As pinturas com que os primitivos descreviam sua vida, lendas e costumes, também são. O homem faz, o homem fabrica. O homem cria.
As mãos tocam a argila e modelam algo novo, belo e útil, produto do trabalho e do poder de abstração que diferenciam o ser humano dos outros animais. A mão pensa no momento em que transforma o barro em vasos, botijas, moringas ou reproduzem as cenas de nosso cotidiano.
A mão voa em pensamento e ato e descobre no metal qualidades que não suspeitávamos: nos vemos, então, diante de uma fruteira, um violeiro, um carro de boi, um boneco motoqueiro ou um qualquer sonho corporificado. E o que não se pode fazer com a madeira, matéria-prima para se construir a casa e tudo o que nela há, tudo que a cerca? O que foi árvore dá todos os frutos que a imaginação possa idealizar.
A mente e a fantasia inventam ao infinito e do couro nascem as mais variadas formas, utensílios e belezas que nos maravilham. Tudo serve para a metamorfose: não há limites quando se trabalha com as fibras vegetais, o papel, a prata, o gesso. As obras fabricadas, uma a uma, trazem a alma do criador. A cultura é isso, manifestação do que o homem é e foi, do que o homem fez e faz, do que será e fará.

Fernando Brant

sábado, 22 de maio de 2010

Como um espelho colorido

Foi pela fé, minha fé, minha cultura.
Minha fé é meu jogo de cintura.

Foi pela fé, minha fé, minha cultura.
Minha fé é meu jogo de cintura.

O Rappa

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Patagônia

Quando me lembro dos lugares onde estive, a vastidão da Patagônia sempre ocupa um lugar de destaque. E, no entanto, a região se caracteriza por qualidades negativas: sem habitações, sem água, sem árvores. Por que aquelas vastidões áridas teriam então dominado dessa maneira meu espírito? Pela perspectiva livre que elas oferecem à imaginação. Pois as extensões patagônicas parecem não ter limites.

Charles Darwin

sábado, 27 de março de 2010

Passos da folia e da fé

A música, os estados de felicidade, a mitologia.
Os rostos trabalhados pelo tempo, certos crepúsculos.
E certos lugares querem nos dizer algo.
Ou algo disseram que não deveríamos ter perdido.

A música, os estados de felicidade, a mitologia, os rostos trabalhados pelo tempo, certos crepúsculos e certos lugares querem nos dizer algo. Ou algo disseram que não deveríamos ter perdido.

José Luis Borges

O vento

Queria transformar o vento.
Dar ao vento uma forma concreta e opta a foto.
Eu precisava pelo menos de enxergar uma parte física
Do vento: uma costela, o olho...
Mas a forma do vento me fugia que nem as formas
De uma voz.
Quando se disse que o vento empurrava a canoa do
Índio para o barranco
Imaginei um vento pintado de urucum a empurrar a
Canoa do índio para o barranco.
Mas essa imagem me pareceu imprecisa ainda
Estava quase a desistir quando lembrei do menino
Montado no cavalo do vento - que lera em
Shakespeare.
Imaginei as crinas soltas do vento a disparar pelos prados com o menino.
Fotografei aquele vento de crinas soltas.

Manoel de Barros

quinta-feira, 25 de março de 2010

Cortejo

Posso ser inocente, debochado e irreverente... afinal, sou o riso dessa gente.